Crianças e Adolescentes Clamam por Ação na Pré-COP
No dia inaugural da Pré-COP, realizado em 14 de outubro em Brasília, ministros, negociadores e observadores de várias partes do mundo foram surpreendidos por um apelo urgente daqueles que mais sofrerão com as consequências da mudança climática: as crianças. Em uma ação conjunta do Instituto Alana e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a presidência da COP 30 entregou aos delegados 600 das 1.600 cartas escritas por jovens brasileiros, simbolizando a voz do futuro que está em jogo nas negociações climáticas.
Ao dar boas-vindas aos delegados, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP 30, enfatizou que essa iniciativa era mais do que um gesto simbólico; trata-se de um chamado à ação concreta. Segundo ele, as mensagens refletem o esforço de mobilização da sociedade civil, lembrando aos negociadores que essas crianças e adolescentes herdarão as consequências das decisões tomadas durante a Pré-COP e a COP 30. “As crianças são parte da solução e estão conosco nesse esforço. É nossa obrigação honrar essa confiança, transformando suas palavras em promessas reais que garantam ambição climática e esperança para as futuras gerações”, finalizou o embaixador.
A Reação das Delegações Internacionais
A mensagem das crianças foi recebida com entusiasmo pelas delegações internacionais. Xiomara Acevedo, representante do Panamá, destacou que as cartas servem como um lembrete da necessidade de proteger o meio ambiente. Para ela, “a melhor forma de assegurar um futuro para as próximas gerações é agir agora, promovendo justiça climática, de gênero e intergeracional”.
Um Processo de Escuta que Mobilizou o País
O processo que resultou nas cartas foi coordenado pelo Instituto Alana em parceria com o Unicef, engajando mensagens e desenhos de jovens de 10 estados brasileiros e do Distrito Federal. As cartas trazem relatos impactantes sobre como a crise climática já afeta as comunidades desses jovens, incluindo pedidos diretos e emocionantes aos líderes globais.
“O meio ambiente é um reflexo da harmonia que devemos ter com todos os seres vivos”, disse Roberta, de 16 anos, de Minas Gerais. Pedro, um garoto de 9 anos, expressou seu desejo de que “não haja desmatamento nem poluição”. Gustavo, de 16 anos, alertou que “o Brasil é um dos países mais vulneráveis à mudança climática, e a tendência é um colapso total. Amar é conservar”. Valentina, de 14 anos, espera que a COP 30 discuta “mudanças no comportamento das pessoas e a conscientização sobre o aquecimento global para construir um mundo melhor”.
Mutirão pelo Clima e a Consumação do Conceito de Ação Coletiva
Essa ação encapsula o conceito de ‘mutirão’, promovido pela Presidência da COP 30 durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. O embaixador André Corrêa do Lago observa que o mutirão é essencial para unir “todas as mãos e todas as gerações” na luta contra a crise climática.
JP Amaral, gerente de Natureza do Alana, destacou que “essas cartas representam a forma como a pauta climática permeia o pensamento das crianças e jovens, trazendo o tom de colaboração imprescindível para o multilateralismo”. Ele ainda acrescentou que esse material evidencia a conscientização das novas gerações e a esperança que deve guiar as negociações.
Danilo Moura, especialista em Mudanças Climáticas do Unicef no Brasil, reforçou a importância de incluir a perspectiva das crianças nas decisões. “Como são os mais impactados, trouxemos essas cartas para que as decisões na Pré-COP sejam fundamentadas na justiça intergeracional”, reiterou, sublinhando que é fundamental ter em mente os apelos das crianças durante as discussões.
A COP 30 está programada para ocorrer em Belém (PA) entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. A expectativa é que o clamor transmitido nas 1.600 cartas ecoe nas salas de negociação, lembrando a todos sobre a verdadeira essência do que está em jogo: o direito das crianças a um planeta sustentável.