Celebrando a cultura indígena por meio do Esporte
No último fim de semana, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi palco, pela segunda vez consecutiva, da 2ª edição dos Jogos Universitários Indígenas da Região Sul (Juirs). O evento, que ocorreu no sábado (11) e no domingo (12), mobilizou cerca de 400 pessoas, incluindo líderes de comunidades indígenas, parlamentares e atletas de diversas localidades como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O Centro de Educação Física e Desporto (CEFD) foi o local escolhido para sediar essa importante competição.
Organizados pela Comissão Indígena da UFSM, os Jogos têm o apoio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), Pró-Reitoria de Extensão (PRE), Gabinete do Reitor e outros parceiros. O lema deste ano, “Esporte como Resistência”, reflete a intenção de transformar o espaço acadêmico em um lugar de celebração da ancestralidade e da coletividade.
A UFSM se consagrou campeã geral pela segunda vez seguida, destacando-se na competição que reuniu instituições como a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), além de várias outras. As comunidades Guarita, Kaingang e Guarani também marcaram presença nos Jogos, enriquecendo a diversidade cultural do evento.
Durante a cerimônia de abertura, personalidades como a vice-reitora da UFSM, Martha Adaime, e a pró-reitora de Assuntos Estudantis, Gisele Guimarães, ressaltaram a importância da inclusão e do protagonismo indígena nas universidades. Gisele disse: “A gente nem consegue mais lembrar o que era a UFSM sem vocês. Esses jogos demonstram a materialidade das políticas afirmativas”. Já Martha complementou: “Aqui vemos uma lição de acolhimento e coletividade, e somos gratos por tudo que vocês têm nos ensinado”.
Modalidades e Participação
Os Juirs apresentaram uma variedade de modalidades, envolvendo tanto esportes tradicionais quanto contemporâneos. Os participantes puderam competir em provas como arco e flecha, corrida do maracá e até vôlei misto. O evento também contou com a participação de acadêmicos do curso de Educação Física na arbitragem das competições, promovendo uma interação significativa entre alunos e atletas.
Um dos destaques do atletismo foi Maira Andressa Amaral da Terra Indígena do Guarita, que conquistou o primeiro lugar nos 100 metros rasos feminino. “No ano passado não pude participar devido a uma lesão, mas me preparei e consegui competir este ano. Não esperava ser campeã, estava mais focada em participar”, afirmou Maira, que confessa preferir o futsal e o futebol como seus esportes favoritos.
No masculino, Renã Cardoso, da UFFS Campus Erechim, também deixou sua marca ao destacar o valor dos Juirs: “Esses jogos são muito mais do que competição; são uma forma de visibilidade para a nossa cultura indígena”.
Estrutura e Acolhimento
Diferentemente da edição anterior, os organizadores ofereceram aos participantes áreas de descanso nos ginásios 3 e 4 do CEFD, enquanto muitos optaram por acampar ao ar livre, reafirmando seu vínculo com a natureza. O acadêmico de Enfermagem Leonardo Kaingang, um dos organizadores do evento, comentou: “O acampamento é uma tradição do movimento indígena, permitindo um contato mais próximo com a terra”.
O Restaurante Universitário (RU) preparou refeições comunitárias com pratos típicos, como peixe, mandioca e arroz, escolhidos pelos organizadores para atender às necessidades alimentares dos participantes. Segundo Leonardo, a recepção foi excepcional: “O RU foi muito solícito e atendeu nossas preferências alimentares”.
Noite Cultural e Etnomídia
Além das competições, os Juirs contaram com uma noite cultural repleta de apresentações de danças e músicas indígenas. O povo Tikuna, representado por acadêmicos da UFFS de Realeza, se apresentou, assim como DJs de diversas universidades. Leonardo destacou: “A noite cultural é o momento de descontração e também de premiações, incluindo a escolha da mais bela atleta”.
A cobertura do evento foi feita pelo projeto Caipora – Etnomídia Indígena, que visa registrar a experiência dos jogos sob a perspectiva indígena. O estudante Xainã Pitaguary, integrante do projeto, ressaltou: “É fundamental que a mídia indígena registre e eternize esses momentos, reafirmando nossa presença e cultura nas universidades”.
Legado e Futuro
A interação entre as crianças indígenas e as competições foi notável, com muitas delas brincando nas áreas do evento. Leonardo enfatizou a importância de envolver o público infantil: “Os Jogos são pensados para que essas crianças vejam o que estamos construindo. É um legado que queremos deixar para elas”.
O movimento já planeja expandir o Juirs para o cenário nacional, com a ideia de levar os jogos a outras universidades do Brasil em 2027 ou 2028. “Estamos em negociação para que os Jogos Universitários Indígenas se tornem um evento nacional”, concluiu Leonardo.