Diálogos sobre Culturas Indígenas e Turismo no Festival Híbrido
O Acre se destacou nas discussões sobre turismo e culturas tradicionais indígenas durante o Festival Híbrido, realizado neste final de semana em São Paulo (SP). A participação do estado foi apoiada pelo governo do Acre, através das Secretarias de Estado de Turismo e Empreendedorismo (Sete) e dos Povos Indígenas (Sepi), evidenciando o compromisso do estado em valorizar suas culturas locais.
Um dos momentos mais aguardados do evento foi o painel intitulado “Psicodelia ancestral, etnoturismo no Acre e COP30”, que ocorreu no último sábado. Participaram do debate o líder espiritual Bruno Brandão Shanenawa, representante da comunidade na COP 30, e a líder indígena Awa Pay Shanenawa, ambos oriundos de Feijó, interior do Acre. A perspectiva técnica e governamental foi apresentada por Adalgisa Bandeira, chefe da divisão de promoção de destinos turísticos da Sete, que possui vasta experiência em turismo indígena.
De acordo com Carlos Minuano, jornalista e curador do evento, o campo dos psicodélicos vive um momento de crescimento e o Festival Híbrido se propõe a trazer a contribuição indígena para as discussões. “A ideia é inserir a perspectiva indígena e amazônica, que frequentemente é deixada de lado nesses debates”, afirmou.
História e Cultura Indígena em Evidência
A abertura do evento foi conduzida por Adalgisa Bandeira, que apresentou o tema “Festivais da Cultura Indígena no Acre: uma efervescência cultural associada ao turismo”. Durante sua fala, ela relatou a história das etnias do estado, destacando as ‘correrias’ e o agrupamento dos povos por meio de língua, grafismos, vestimentas e artesanato. Ela ressaltou que os povos originários do Acre costumavam comemorar essas uniões por meio de festas, que integram a luta pela demarcação de terras até os festivais de cultura indígena que atraem turistas desde 2008, com os Puyanawa como pioneiros.
Protagonismo Indígena na COP30
Bruno Alex da Silva Brandão Shanenawá, conhecido como Fakaynū Shanenawá, é uma liderança cultural e espiritual do povo Shanenawá. Durante o Festival Híbrido, o líder enfatizou a relevância de discutir esses temas em eventos como este, que antecedem a COP 30, a ser realizada no próximo mês em Belém (PA). “O Festival tem sido muito produtivo. É uma oportunidade de entender mais sobre o tema, representando tanto indígenas quanto não indígenas. É essencial que a voz da floresta seja compartilhada“, comentou.
Fakaynū, que é neto e filho de líderes espirituais, disse que desde pequeno foi incentivado a se aprofundar nas tradições de seu povo, que incluem artesanato, rituais e a medicina da floresta. “Fui iniciado desde criança nos saberes ancestrais, e esse conhecimento é fundamental para a espiritualidade do meu povo”, acrescentou.
Awa Pay Shanenawá, outra importante participante do Acre no Festival, destacou a importância de discutir a cultura indígena em eventos de notoriedade nacional e internacional. “Este evento é um espaço para a cultura dos povos originários, abrangendo não apenas o povo Shanenawa, mas diversas etnias que conhecem a medicina da ayahuasca. Estamos ganhando visibilidade e espaço urbano para falar sobre nossas tradições”, afirmou.
Compromisso do Estado com as Culturas Indígenas
Nos últimos anos, o governo do Acre tem fortalecido políticas públicas para promover os direitos dos povos indígenas, incluindo a valorização dos festivais. Em 2024, pela primeira vez, 23 festivais indígenas foram incluídos no calendário oficial do estado, respeitando e celebrando as culturas originárias. A publicação no Diário Oficial do Estado simboliza um passo a mais no fortalecimento cultural, permitindo que cada etnia possa compartilhar sua cultura e contribuir para a economia local.
Os festivais continuarão a fazer parte do calendário oficial em 2025, com suporte das Secretarias de Turismo e dos Povos Indígenas. “Chegamos até aqui graças ao apoio do governo do Estado. Agradeço ao Acre, que está valorizando as populações indígenas e nos ajudando a expressar nossa cultura e verdade”, comemorou Awa Pay Shanenawá.
Festival Híbrido: Uma Conexão Cultural
A terceira edição do Festival Híbrido, realizada em São Paulo, busca promover diálogos sobre legalização, saúde e saberes ancestrais, conectando o empreendedorismo a players relevantes da economia verde e do público. Carlos Minuano, curador do eixo psicodélico do evento, expressou sua satisfação com a presença do Acre: “Foi uma honra abrir o evento com as contribuições de Bruno e Awa Pay”, disse Minuano.
Carlos Messias, jornalista e integrante da equipe de comunicação do Festival Indígena União dos Povos, também participou e destacou a riqueza cultural do Acre. “A imersão na aldeia Segredo do Artesão, do povo Huni Kuin, foi uma experiência inestimável. Todos que vivem neste território deveriam se conectar com os povos indígenas e suas tradições culturais”, comentou, enfatizando a beleza da herança cultural do Acre e a importância do Festival Híbrido para trazer essa conexão à tona. “É um patrimônio cultural vivo que muitos ainda desconhecem”, finalizou.