A Importância dos Cactos no Nordeste
Falar sobre cactos evoca imediatamente lembranças de regiões áridas e semiáridas ao redor do mundo. Para os mais velhos, cenas de filmes de faroeste, com índios e cowboys atravessando paisagens secas repletas dessas plantas espinhosas, vêm à mente. Aqueles que cresceram assistindo ao Pica-Pau certamente se lembram do cavalo Pé-de-Pano, que cavalgava por trilhas cheias de cactos como o mandacaru e o xique-xique.
No Brasil, cactos também simbolizam a luta e a esperança do Nordeste, uma região marcada pela pobreza e pela dependência das chuvas. Entre as diversas espécies da família Cactácea, duas se destacam por suas aplicações econômicas: o gênero Opuntia e o gênero Nopalea. O Opuntia abriga a famosa palma conhecida como Orelha de Elefante Mexicana, que possui um papel histórico significativo para os povos pré-Aztecas, Maias e Incas. No México, essa palma, chamada Nopal, é essencial na alimentação, sendo cultivada em vastas áreas para consumo humano, seja em forma de saladas, frituras ou processados.
O Cultivo da Palma: Uma Alternativa Estratégica
A segunda espécie, do gênero Nopalea, conhecida como palma miúda ou doce, é vital na produção animal, especialmente no Agreste de Pernambuco, Alagoas e Paraíba, servindo como um dos principais alimentos forrageiros para a pecuária leiteira. A intersecção entre a cultura cactácea e a indústria nordestina é marcante, especialmente quando se fala de figuras como Delmiro Gouveia e Arthur Lundgren, que, no início do século XX, vislumbraram a palma forrageira como uma solução para o semiárido. Em suas iniciativas, eles importaram essa palma da Califórnia, embora não se tenha registros de um aproveitamento sistemático dessas coleções.
A partir da década de 1930, o governo de Pernambuco iniciou campanhas para promover o cultivo da palma forrageira, reconhecendo sua importância durante períodos de seca severa. Nesse contexto, a palma passou a ser vista como um recurso vital, cultivado em terrenos menos férteis e mais pedregosos. O Instituto Agronômico de Pernambuco se destacou ao organizar pesquisas e desenvolver tecnologias nessa área desde 1957, mesmo em meio a desafios.
Inovação e Desafios no Cultivo de Palma
Um marco na história do cultivo da palma ocorreu em 1995, quando o deputado Ricardo Fiúza, ao retornar do México, persuadiu o governador Miguel Arraes a adotar o cultivo adensado da palma forrageira. Apesar do ceticismo inicial de Arraes, experimentos foram realizados em várias estações experimentais, levando a uma transformação na forma como se cultivava a palma no Nordeste. Porém, a intensificação do cultivo trouxe consigo novos desafios. A cochonilha do carmim, uma praga devastadora, proliferou rapidamente, comprometendo milhões de hectares de palma em Pernambuco e Paraíba. Em busca de alternativas, pesquisadores do IPA descobriram uma variedade resistente, a Orelha de Elefante Mexicana, que rapidamente se espalhou entre os produtores.
Essa introdução, sem dúvida, foi crucial, especialmente durante a seca de 2012 a 2018, onde a palmeira se mostrou resiliente, mantendo a produção leiteira em vários estados nordestinos, surpreendendo a todos. A resiliência da palma forrageira e sua capacidade de adaptação às adversidades climáticas é um testemunho do potencial dessa planta como uma solução sustentável para a agricultura na região.
O Papel da Pesquisa e Inovação
Recentemente, uma visita à Estação Experimental do IPA em Araripina destacou a continuidade do trabalho com novos genótipos de palma, fruto de um programa de melhoramento genético em parceria com a UFRPE-UAST. Este projeto simboliza um avanço significativo, consolidando a pesquisa sobre Palma como uma base fundamental para o desenvolvimento sustentável do semiárido. É um exemplo claro de como a pesquisa e a inovação podem criar oportunidades para a pecuária e a agricultura, unindo tradição e modernidade.
