Um apelo à ação internacional contra a fome
No evento que marca os 80 anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), realizado nesta segunda-feira (13/10) em Roma, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a oportunidade para reiterar a necessidade urgente de reverter as prioridades globais. Em seu discurso, Lula enfatizou que com apenas 12% do que é gasto anualmente em armamentos, seria viável eliminar a fome no mundo. De acordo com o presidente, a tecnologia agrícola atual tem a capacidade de produzir alimentos suficientes para atender toda a população, mas a desigualdade na distribuição dos recursos financeiros impede que milhões tenham acesso à comida.
Lula sugeriu a implementação de uma taxação de 2% sobre as grandes fortunas como uma possível solução para essa questão. Ao iniciar seu discurso, ele dirigiu-se aos chefes de Estado e representantes presentes, destacando a importância da FAO na luta contra a fome global.
Desafios e avanços no combate à fome
O presidente recordou que, há dez anos, participou das celebrações dos 70 anos da FAO, um evento que representava um momento de esperança e união em torno da Agenda 2030. Entretanto, hoje, Lula apontou que o otimismo se esvairá à medida que os desafios em torno da segurança alimentar se intensificam. “Enquanto houver fome, a FAO será uma entidade indispensável”, afirmou.
Ele fez referência ao famoso pensador brasileiro Josué de Castro, que destacou que metade da população mundial não tem o que comer, enquanto a outra metade vive com o temor de não conseguir se alimentar. A fome, segundo Lula, é um reflexo das desigualdades que separam ricos e pobres, homens e mulheres, além de nações desenvolvidas e em desenvolvimento.
Custos da fome e soluções propostas
Ainda segundo a FAO, 673 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar. Com base em estimativas do Programa Mundial de Alimentos, Lula calculou que garantir três refeições diárias para essas pessoas custaria cerca de 315 bilhões de dólares, um valor que representa apenas 12% dos 2,7 trilhões de dólares gastos anualmente em armamentos. Ele argumentou que, ao estabelecer um imposto global de 2% sobre os super-ricos, esse montante poderia ser alcançado, eliminando a fome no mundo.
O presidente também sublinhou que a fome está interligada a conflitos armados e políticas protecionistas que desestabilizam a produção agrícola em países emergentes. Lula destacou que a luta contra a fome e a pobreza deve ser um compromisso contínuo, reiterando a importância de não tratar a questão apenas como assistencialismo, mas sim como uma política de Estado.
O papel da FAO e a experiência brasileira
Durante seu discurso, Lula elogiou a FAO por seu papel ativo na promoção do direito à alimentação e na erradicação de doenças que afetavam a agricultura. Ele ressaltou que o Brasil, sob a liderança de figuras como José Graziano da Silva, foi um exemplo de boas práticas na luta contra a fome e serviu de inspiração para iniciativas globais.
O presidente enfatizou que, após um período de retrocessos, o Brasil está novamente buscando fortalecer suas políticas sociais e que, em 2024, o país alcançou a menor proporção de lares em situação de insegurança alimentar grave da sua história. Lula frisou a necessidade de tornar a luta contra a fome uma questão central das políticas governamentais.
A importância da solidariedade e do multilateralismo
O presidente concluiu seu discurso convocando a comunidade internacional a unir esforços no combate à fome, destacando que a FAO é um exemplo de multilateralismo que promove soluções adaptadas às necessidades locais. Ele lembrou que a fome e a pobreza são desafios que requerem uma abordagem colaborativa e solidária entre os países para garantir que a produção e a distribuição de alimentos sejam feitas de maneira justa e sustentável.